quarta-feira, 30 de março de 2011

SOBRE HOMOFOBIA


O BRASIL É UM PAÍS HOMOFÓBICO SIM!


"Os relacionamentos sexuais e afetivos são de foro exclusivamente íntimo e desde que estabelecidos entre indivíduos adultos e livres, não deve sofrer qualquer ingerência do Estado. Qualquer proposta ao contrário é fascismo ou o pior dos totalitarismos."




Por Elenilson Nascimento

Ficou chocado com a foto-montagem de Harry Potter e o seu amiguinho acima?
Acho que não, afinal de contas são artistas. E parece que artistas podem tudo.
Mas ainda fico abismado com as notícias de que um homossexual é assassinado a cada dois dias no nosso país “abençoado por Deus e bonito por natureza”, onde o Brasil passou a ser considerado o país mais homofóbico do mundo.
O México vem em segundo no ranking, com 35 casos no ano passado, e os Estados Unidos, em terceiro com 25 assassinatos.

Eles não cometeram nenhum crime. Mas a decisão de assumir a homossexualidade perante os outros bastou para que fossem condenados.
Em Salvador, por exemplo, moradores de favelas e baixadas, pretos, pobres, periféricos, gays, lésbicas, travestis e transgêneros vêm sendo caçados por traficantes e milicianos nas comunidades onde moram. Espancados e humilhados em público, e muitos acabam assassinados.

Outros, com um pouco mais de sorte, são “apenas” expulsos das suas comunidades — após sessões de tortura. E o que a Justiça, o MP, a mídia fazem? NADA!

Mas discriminar alguém por sua opção sexual no Brasil poderá se tornar crime, de acordo com projeto que tramita até hoje no Senado Federal. Isso se aprovarem! A proposta tem causado polêmica principalmente entre os parlamentares da chamada “bancada evangélica”.


 A bancada da “moralidade” e da hipocrisia que impera nesse país. Os senadores Marcelo Crivella e Magno Malta são os mais ferrenhos adversários da proposta. O caminho para coexistência é longo. E a bem da verdade é que falta vontade de nossos parlamentares atuais trabalharem no sentido de mudar tal cenário.

Enquanto isso, a Fundação Perseu Abramo divulgou o resultado de uma pesquisa que tinha por objetivo identificar a homofobia no território brasileiro. Foram entrevistadas 2.042 pessoas nas cinco regiões do país. 
E o resultado é alarmante e dá uma medida e explicada ao fato da população LGBT contar com poucos mecanismos no que diz respeito às leis. 

Vejam alguns dos números berrantes da pesquisa: 52% dos entrevistados são contra a união gay; 58% consideram a homossexualidade pecado; 41% acreditam serem as relações homossexuais fruto de uma doença; 84% acham que a forma ideal de união é entre homem e mulher para reproduzirem; 99% possuem algum tipo de homofobia; 72% não gostariam de ter filhos gays; 72% não se importam em ter vizinhos LGBT; 92% acreditam que há preconceito contra os LGBT, dentro desse número: 72% dizem não ter preconceito diretamente contra gays e 71% contra lésbicas. 

Com tais números, o que podemos pensar?
Sim, Brasil é um país intolerante, atrasado, dominado e regido por dogmas religiosos ultrapassados e hipócritas, os pais ainda não estão preparados para ter filhos homossexuais. E, ser gay no Brasil é considerado uma vergonha.


É necessário investir em uma educação quanto à diversidade sexual e investir mais ainda em cultura, para assim propagar conhecimento e esclarecimento, pois o número de pessoas que não compreendem, ou não aceitam os gays é muito grande e isso faz explicar por que tantos LGBTs morrem no Brasil, apontado como um dos que mais mata homossexual.

ATÉ NAS PROPAGANDAS – Essa semana foi divulgada em sites estrangeiros uma propaganda que sugere aos pais o “consumo de cachaça como forma de aceitar a homossexualidade do filho” que tem causado muita polêmica lá fora. A peça apareceu no portal "Ads Of The World" e no “Gawker”, um dos maiores sites noticiosos dos EUA, onde foi chamada de "O anúncio mais homofóbico da semana".




Em inglês, a propaganda da cachaça “Magnífica”, fabricada em Miguel Pereira (RJ), mostra a planta de uma casa. No sofá, quadradinhos coloridos identificam "Your son" (seu filho) e "Your son's buddy" (o camarada do seu filho). Uma legenda indica que os dois estão vendo "O Segredo de Brokeback Mountain", filme muito bom sobre o amor entre dois caubóis gays, do cineasta Ang Lee. Abaixo, há uma foto da cachaça “Magnífica” e a frase: "If you gotta be strong, we gotta be strong" (*Se você tem de ser forte, nós temos de ser fortes). 

Propagandas existem desde sempre para fazerem os canais de TVs ganharem muito dinheiro, além de encherem o nosso saco. RedeTV, SBT, Globo e Band, batem recorde de propagandas idiotas. Mas, essa propaganda de péssimo gosto da cachaça “Magnífica” superou todas as expectativas do preconceito.

Segundo a Agência 3, de onde o anúncio partiu, ela foi passada ao site por uma dupla de criadores sem autorização e sem a marca saber. Mas esse tipo de propaganda só faz promover mais preconceito. Há alguns anos, a cachaça "Cura Veado" também causou controvérsia entre a militância gay.

OUTRO CASO PATÉTICO – Ontem, 28/03, após ser acusado de racismo e homofobia depois que sua participação no programa "CQC", apresentado peloMarcelo Tas, foi ao ar na noite desta segunda-feira, o deputado federal preconceituoso Jair Bolsonaro (PP-RJ) disse que não quis ofender a cantoraPreta Gil, filha do ex-ministro e compositor Gilberto Gil.

Resumo da ópera: na última segunda-feira (28), o "CQC" exibiu a participação do deputado Jair Bolsonaro no quadro“O Povo Quer Saber”, no qual pessoas fazem perguntas ao entrevistado. A Preta Gil fez uma pergunta para o deputado, que já havia respondido outras a favor da ditadura e evidenciando preconceito racial e de gênero.


A última questão, de Preta, foi se o filho do deputado namorasse uma mulher negra, o que ele faria. Bolsonaro respondeu com todas as palavras que isso seria “promiscuidade da parte do filho”, e completou: "Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco porque meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu".


Preta Gil declarou em seu Twitter que deve processar o deputado pelas declarações."Advogado acionado. Sou uma mulher Negra, forte e irei até o fim", escreveu. Processe mesmo, Preta! 
Depois de saber que vai ser processado, Bolsonaro afirmou: "O que eu entendi, na pergunta, foi 'o que você faria se seu filho tivesse relacionamento com um gay". Por isso respondi daquela maneira", disse. "Não sou racista. Apesar de não aprovar o comportamento da Preta Gil." Apesar disso, o deputado disse que não vai telefonar para a cantora para explicar o mal-entendido.

Por linhas tortas, todos os cenários do mundo e das sociedades escancaram aos otimistas e aos puros que nunca fez sentido acreditar no maniqueísmo de um mundo moral bipolar dividido entre os muito bons e os muito maus, onde ser gay é vergonhoso, é uma coisa de segurança pública.

E se o presidente “mais boa praça e mais família dos Estados Unidos” até aqui, e diga-se, de novo, pela importância do título, um Nobel da Paz, o carismático e bem formado primeiro afro-descendente a ocupar o cargo mais poderoso do mundo, fosse gay?

Será que o mundo e, principalmente, muitos desses brasileiros e as criancinhas que choraram de emoção só por terem sido tocadas por ele no Palácio do Planalto iriam tratá-lo da mesma forma? Acho que não!

Mas ele, num telefonema protocolar, autorizou porta-aviões entupidos de mísseis a cuspir fogo contra as tropas aliadas do caricato Muamar Kadaffi. Contra elas e somente contra elas, as tropas de Kadaffi, e sempre em nome da proteção do povo líbio. De novo, um presidente dos Estados Unidos incorporando a figura do chefe da polícia do mundo se mostrou muito macho. Abaixo o vídeo do acéfalo deputado (*como é que as pessoas ainda votam nesse homem) Jair Bolsonaro no CQC:




fotos: reprodução

FONTE:http://literaturaclandestina.blogspot.com/2011/03/o-brasil-e-um-pais-homofobico-sim.html



ELE NÃO ESTÁ SOZINHO, MAS NÓS TAMBÉM NÃO

Por Maycon Benedito*
Os juízes da normalidade estão presentes em todos os lugares. Nós vivemos na sociedade do professor-juiz, do médico-juiz, do educador-juiz, do ‘trabalhador social’-juiz.”
Michel Foucault
A primeira coisa que senti após saber da declaração do deputado no CQC foi revolta. Revolta, mas não surpresa. Bolsonaro é mais do que apenas uma representação de valores conservadores. Ele é a própria incorporação desses valores. Ele não é burro, nem ignorante, nem falta a ele a educação formal de quem estudou em “boas escolas”. Ele vê, sente, percebe e se posiciona em relação a realidade daquela forma. Uma forma de colocar-se no mundo. É um modo de vida .E se ele é assim, muitas outras pessoas também são. E foram essas pessoas que votaram nele, que o escolheram para defender esses valores.
Esse homem apenas empresta seu rosto, sua voz, seus gestos, suas palavras para esses valores e às pessoas que os vivenciam. Essas mesmas pessoas terão filhos, os educarão e darão continuidade a essa forma de olhar o mundo – é claro que alguns desses filhos conseguirão produzir outras maneiras de viver suas vidas, afinal os seres humanos não são meros depósitos de idéias.
Acho que todas as medidas de repúdio ao que ele expressou devem ser tomadas, mas ainda que ocorra alguma punição não devemos esquecer que há pessoas que votaram nele e que votarão novamente. E elas têm esse direito. Tem direito de não aceitarem que existam valores diferentes dos delas, mas tem que aprender que tais valores são tão legítimos quanto. Não podem se considerar no direito de dizer como alguém deve viver suas vidas. Há limites entre discordar e discriminar.
E acho que aí que está a questão. Ele pode ser enquadrado na lei de discriminação racial porque o racismo é crime e pode levar a prisão. E é disso que ele está com medo, de ser punido por essa lei. No caso da homofobia tal lei não existe e como ele mesmo disse está “se lixando” para os homossexuais. Acho que nesse momento, seria importante que todos – homens, mulheres, gays, héteros, negros, brancos – que se sentiram humilhados, revoltados ou incomodados com a fala do deputado se posicionem e mostrem que há pessoas que pensam de outra maneira, que vivem de outra maneira, que olham e sentem o mundo de outra maneira.
E completando o trecho de Foucault desta vez encontramos o deputado-juiz.

*Maycon Benedito é colaborador do blog "Subvertendo Convenções" e é formado em Psicologia. O contato dele é:  maycon_benedito@hotmail.com