quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

HIV positivo x negativo: uma união possível


Rodrigo (nome fictício) é um grande amigo meu. Aos 19 anos de idade, ele contraiu HIV numa transa com um amigo da academia de musculação. O rapaz não sabia que era soropositivo. A descoberta veio após um exame realizado por causa de uma inflamação na garganta de Rodrigo que nunca sarava. Foi uma barra. Hoje, aos 26 anos de idade, tomando seus antirretrovirais, Rodrigo leva uma vida normal, tem planos para o futuro, concluiu sua faculdade, tem um bom emprego e é um jovem bastante bonito e atraente, por sinal. Há algum tempo atrás, Rodrigo conheceu um outro rapaz e se apaixonou. Já estavam namorando firme há três meses, quando Rodrigo veio me contar que ainda não tinha revelado que era soropositivo. Tinha medo de perder o namorado. Tinha medo da rejeição.


Imagino que, dentre muitos conflitos que permeiam a vida de um soropositivo, este seja um dos mais dolorosos. Amar e ser amado é uma busca que pertence a praticamente todas as pessoas deste planeta. Ser rejeitado por causa do vírus HIV mexe profundamente com a auto-estima do portador e muitas vezes o lança para uma vida de reclusão, de angústias e depressão. Um abismo perigoso que pode trazer muito mais dor do que a própria condição de se conviver com o vírus.



Rodrigo tinha verdadeiro pavor deste quadro. Mas sempre que conversávamos eu o estimulava a contar tudo para o namorado. Por mais difícil que fosse esta decisão, nada superaria a verdade. Questão de ética. O namorado precisava saber. E quanto mais Rodrigo protelava com esta revelação, mais pesado ia se tornando este fardo, pois além da problemática da doença, o namorado ainda poderia se sentir traído por não ter sido avisado desde o início. E decidir se deveria ou não relacionar-se com uma pessoa soropositiva era uma decisão que pertencia só a ele. Rodrigo não deveria privá-lo disto.
Depois de muita conversa e medos expostos, Rodrigo tomou coragem e, finalmente, contou tudo para o namorado. Foi um choque, obviamente. Ambos choraram muito. Porém, após muitas lágrimas derramadas, veio a iluminação. O namorado resolveu enfrentar todos os obstáculos que viriam e decidiu continuar ao lado de Rodrigo.

Não é tão simples, realmente. Conviver com um soropositivo em tratamento tem suas dificuldades. O vírus, de alguma forma, sempre está presente na relação, seja na hora do sexo, seja na hora das recaídas da doença. Mas não é impossível. Nada que o amor e a força de vontade não vençam. E um pouquinho de informação também.
Estou contando esta história porque hoje à tarde eu falei com Rodrigo por telefone. Muito satisfeito com a vida, ele me convidou para conhecer o seu apê recém reformado. O mesmo apê que ele e o namorado compraram juntos: mês que vem eles estarão completando 2 anos de união. Estão casados e muito felizes.



Como desde o início eu fui um entusiasta desta relação, acabo compartilhando também da felicidade deles. Por isso, achei legal tocar no assunto por ser um bom exemplo de que sorodiscordantes podem se relacionar sem problemas, basta que tenham cuidado e responsabilidade. E também para que os soropositivos deixem de lado este medo da rejeição, pois se há amor no relacionamento, haverá apoio e compreensão. E se não houver é porque aquela ainda não é a pessoa certa para se relacionar. O que não vale é cair em depressão ou tentar se afastar dos outros por vergonha. O mais importante é sentir-se bem consigo mesmo e ter em mente que a verdade deve prevalecer. Sempre.