Hoje eu tomo em mãos, meu caderno da época do segundo grau, e trancrevo aqui, uma redação, que de acordo com a professora, deveria ser uma carta para qualquer pessoa, sobre qualquer assunto. A turma achou que o que escrevi foi pesado. Aff...
Olho da Rua, 15 de Setembro de 2001
Querido Papai Noel
Já estou perdendo as esperanças de que você exista de verdade.
Sei que é meio cedo para o Natal, mas como nunca ganhei um único presente de natal, acho que se Deus olha por mim, chegou a minha vez.
Ano passado, minha mãe morreu ao dar a luz à minha irmã, que também não resistiu. Os médicos falaram que ela tinha uma anemia braba e sofreu de "clampse". Lá em casa não havia o que comer.
Meu pai estava desempregado e acabou sendo preso porque descobriram o "gato" que ele fez, desde que cortaram nossa energia elétrica, por falta de pagamento.
Agora estou sozinho e finalmente entendi porque, meu pai, Francisco Ferrado era sempre chamado de "Chico Fudido".
Hoje sou interno de uma fundação onde fui descobrir o que é televisão e rádio. De elétrico, lá em casa, só tinha um caco de geladeira e duas lâmpadas...aqui tem um monte de crianças, mas ninguém conversa ou brinca comigo, nem me dá atenção. Só a professora, que está me ensinando a escrever. Ah, e a tia da merenda também! Eu nunca tinha comido pudim, arroz-doce, nem maionese. Eu só comia farinha seca, quando tinha...
Que mais eu podia pedir? Bem, eu queria que você pudesse consertar minha vida, que eu pudesse viver ao lado do meu pai outra vez, pois sei que não posso ter minha mãe ou minha irmã de volta.
O problema é que ninguém se lembra dele...só falam nesse tal Estados Unidos e do prédio que caiu.
Papai Noel, faz esse favor pra mim, eu tenho sido um bom menino de verdade...
José Ninguém, sete anos e meio
P.S.:mas pode me chamar de "Zezinho".
Nenhum comentário:
Postar um comentário