“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João: 8:32).
Afinal de contas, o que é liberdade? Liberdade, em filosofia, designa de uma maneira negativa, a ausência de submissão, de servidão e de determinação, isto é, ela qualifica a independência do ser humano.
De maneira positiva, liberdade é a autonomia e a espontaneidade de um sujeito racional. Isto é, ela qualifica e constitui a condição dos comportamentos humanos voluntários.
Liberdade, na verdade, é um conceito utópico de autonomia. TODOS SOMOS PRISIONEIROS. Cada um de nós tem sua própria cela, em um nível maior ou menor de desconforto. Ninguém nasce livre como se fosse uma tela em branco.
Se menino ou menina, somos inicialmente aprisionados a cores (rosa ou azul), brinquedos e roupas, comportamentos pertinentes a essa condição de sexo, antes mesmo de sairmos do útero. Estamos presos a uma condição sexual muito antes de percebermos.
Somos presos a um documento que diz que somos fulano de tal, filho de cicrano com beltrana. Acreditamos que somos um nome, quando na verdade, somos um número_depois, passamos a ser vários números de vários documentos diferentes.
Somos presos ao tempo. Ninguém consegue mudar a linearidade do tempo. Você nasce (ou não_às vezes, partimos antes de ganharmos a luz), cresce (ou não_você pode ficar baixinho ou nem ter tempo de crescer), se reproduz (ou não_ você pode ser infértil, celibatário), envelhece (ou não_às vezes, parte antes mesmo de se dar conta como pessoa) e MORRE (sim, TODOS nós morremos).
Soma-se ao tempo natural, o tempo humano. Somos presos a hora de acordar, de dormir, de estudar, de trabalhar, de comer, de cagar, a hora disso, a hora daquilo...
Somos presos à geografia. Somos de determinado lugar e pronto. Podemos nos mudar, assim, como quem muda de cela. Podemos até adquirir outra cidadania, mas seremos sempre pertencentes à condição de nascido (ou autuado) naquele lugar de origem.
Somos presos a tribos, estilos, convenções, adequações, impostos, religião, biologia, fisiologia.
Existem várias piadas relacionando casamento à uma prisão_assim como várias estampas debochadas sobre o mesmo tema em camisetas.
Mas, de fato, casamento é uma prisão. Às vezes, se vai de bom grado pro "xilindró", às vezes por meras convenções.
A história do casamento retrata muito mais uma prisão_ onde nem se falava sobre amor, mas sobre dotes e união de famílias com interesses em comum_ do que laços de amor.
Não me estranha o fato de o casamento continuar a ser uma instituição vazia com uma maquiagem bonita cada vez menos eficaz, porque cobre cada vez menos o que se deseja esconder.
Família também é uma prisão. Os chamados "laços de sangue", são na verdade, meros grilhões invisíveis. Irônico, quem não constitui uma família convencional, acaba construindo uma outra qualquer, e mesmo a solteirice pode ser uma prisão. E não falo de quem está encalhado compulsoriamente.
Somos prisioneiros em nossas casas. Se o portão não estiver devidamente trancado, assim como as portas e as janelas, corremos o risco de termos nossa "cela doce cela" invadida por alguém que se apropria indevidamente de nossos bens, que também são outra prisão. Somos escravizados pela nossa ambição, nossos desejos, nossa apatia, nossa inércia, nossa vaidade, nossa competitividade, nossas paixões.
Somos prisioneiros de nossos trabalhos, assim como fomos na escola. Quem não estuda ou não trabalha fica na "solitária" da sociedade.
E assim como nas penitenciárias, nos associamos a grupos de pessoas semelhantes a nós, num processo de exclusão aos que são diferentes. Somos presos a códigos de conduta e vestuário.
Podemos não estar num sistema carcerário literal, nem presos a uma cama de hospital, cadeira de rodas, ou mesmo um hospício, mas estamos presos a tudo, em todos os sentidos. Somos presos à rotina, comportamento, pensamento, atitude, sensações e sentimentos
Acabei percebendo que LIBERDADE, de fato, é sentir-se à vontade na prisão em que se vive. Seja ela qual for.
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