terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A frágil essência da MASCULINIDADE

Os brutos também amam, ainda que secretamente.




Parece sempre um exagero quando digo que o que há de mais frágil no homem é a sua masculinidade.
Mas de fato, a cada dia tenho mais certeza disso.

Em antropologia, a masculinidade se refere à imagem ESTEREOTIPADA de tudo aquilo que seria próprio de indivíduos machos, principalmente em análises da sociedades humanas. Faz oposição ao termo feminilidade. E essa regra parece ser levada tão a ferro e fogo que TUDO o que destoa dessa masculinidade, é considerado feminilidade.

Veja bem, você pode ofender um homem de todas as maneiras possíveis. Mas chamá-lo de "viado", "gay", "boiola", "baitola", "florzinha", "frutinha", "mariquinha", "morde fronha", "ré no quibe", "pisa na chapinha", "balde, franga" ou qualquer outro termo ou expressão que o coloque como homossexual, fatalmente é  mais ofensivo que chamá-lo de ladrão, canalha, marginal, drogado, escroto, ou qualquer outro adjetivo negativo.

Tudo o que coloca em cheque o envolvimento HOMEM X MULHER supondo intimidade HOMEM X HOMEM faz a coisa ficar bem feia.

Engraçado é que no geral, homens se cumprimentam informalmente chamando uns aos outros de "viado". Pode? Antigamente eu via homens se cumprimentarem com abraços ou um beijo no rosto. E beijo na boca era coisa de viado. Mais tarde, beijo no rosto era coisa de viado. Hoje, abraço é coisa de viado e boa parte dos homens se cumprimentam apenas apertando as mãos, quando muito, porque há quem se cumprimente apenas socando uma mão na outra.

Ser homossexual parece uma mácula máxima no caráter de um homem, e qualquer coisa que saia da "cartilha" de como um macho" se comporta", já o coloca na posição de homossexual, mesmo sem ser de fato.  Se um garoto se interessa por assuntos e objetos considerados femininos (desde bonecas, Ballet  comida e casinha, por exemplo), é humilhado e enxovalhado. Se mesmo não se interessando por coisas dadas como femininas, também não demonstra interesse em coisas tipicamente masculinas (como esportes radicais ou com bola, carros, lama e lutinha, por exemplo), a humilhação e gozação aparecem do mesmo modo.  Pode ver, se em público tem dois homens se acabando de porrada, forma-se uma arena e tem até torcida. ENTRETANTO, se os mesmo dois homens da briga estivessem se beijando, poderiam ser até apedrejados, e seriam questionados, porque isso é " uma vergonha" e crianças poderiam ver. "Bacana" isso, não?

Em minha infância, quando eu não estava trancafiado em casa, visitava a casa de minha tia.E meu primo, totalmente inserido no sistema , tripudiava de mim, pelo fato de eu não gostar de futebol. "homem que é homem "TEM QUE" gostar de futebol, "TEM QUE" ter um time (que tinha de ser o FLAMENGO, porque ele é flamenguista. Caso contrário, as gozações eram intermináveis e tudo passaria a girar em torno disso.), "TEM QUE" falar de 'buceta' ". Lembro-me que odiando futebol e sentindo a pressão de ser OBRIGADO a me posicionar e TER um time de qualquer maneira, eu falava que torcia pro Brasil e pronto_ e olha que NEM pro Brasil eu torcia de fato.

Aquele monte de homem correndo atrás de uma bola, numa "arena" verde, nunca me despertou um pentelhésimo de interesse. E eu achava ainda mais engraçado que quando o time de meu primo ganhava, meu tio saía conosco de carro e íamos até a Vila Santa Cecília, o coração da cidade de Volta Redonda,onde tinha um monte de gente fazendo algazarra, soltando fogos, gritando...e estavam lá, um monte de homem se abraçando e se beijando, PORQUE seu time foi campeão de alguma coisa.
Quando seu time perdia, em contrapartida, aí era foda, meu primo chorava ( ah, esqueci de dizer que cresci ouvindo constantemente a frase  "homem não chora.", e quando eu chorava_ sim eu chorava facilmente_ passava a ser alvo de uma série de escárnios da parte de meu primo ), ficava azedo, e não podia -se falar com ele por um bom tempo.

Acho que os esportes de macho em geral, se você olhar por um ângulo diferente, vai perceber coisas bem "viadas" neles. Boxe, por exemplo, dois homens se cobrindo de porrada entre um um quadrado de quatro paredes abertas. Usam luvas, shorts de cetim, brigam por um cinto e uma bolsa. E saem com a cara toda colorida em tons de vermelho e roxo. É uma analogia a ser pensada...

Ainda criança, eu gostava muito da Xuxa, e por nunca falar em "comer" a Xuxa, lá ia o Rochester ser chamado de viadinho o dia inteiro. E por ser loiro, na escola, era chamado de paquita. Era estranho, porque parte de mim não se incomodava em ser chamado de paquita, porque eu gostava bastante das paquitas, mas a outra parte sabia que o comentário não era elogioso.
Apesar de não ter acesso a revistas de homens nus naquela época, eu via a Playboy como quem vê um folheto de farmácia, sem muita empolgação.

Minha mãe me submeteu a LEI de nunca deixar baixarem minhas calças ou passarem a mão em minha bunda_coisa que vi também ser algo bem contraditório. Passar a mão na bunda de homem é uma ofensa gigantesca, mas vira e mexe, amigos brincam de passar a mão na bunda um do outro, quando não se cumprimentam assim. O que dizer então das patoladas? "Homem tem de idolatrar o próprio pinto, mas jamais mostrar interesse no pinto alheio." Outra grande balela. O menino já admira o pau alheio quando vê o pai pelado e se questiona porque o do pai é grande _ainda que nem seja, mas faz uma diferença imensa em relação ao do filho_ e tem aquele monte de pelos. E acaba sempre comparando com o de algum amigo, ou até estranhos, no banheiro, se não tiver muita gente, claro.

 É incrível como coisas tão masculinas se tornam femininas em dois tempos. Sapatos de saltos e perucas eram inicialmente usados apenas por homens, assim como o homem desde tempos remotos tem uma ligação forte com maquiagem. Hoje, somente transformistas, travestis, artistas ou "machos" que se fantasiam de mulher no carnaval. Os shorts e as sungas que os "machões" dos anos oitenta usavam, hoje são coisas de "viadões".

Mas o mais engraçado mesmo é que apesar de ainda encontrarmos os tipos mais rústicos e conservadores, o "macho" moderno nunca foi tão "viado", esteticamente. Cabelos coloridos, com reflexos, penteados ornamentais,unhas e sobrancelhas feitas,depilação, anéis e brincos de brilhantes...

As camisas baby look, por exemplo,quando surgiram, só gays usavam_mesmo porque só virou um nicho de mercado depois de gays pegarem por muito tempo, camisas das irmãs, ou irmãos mais novos emprestada, quando não compravam diretamente na sessão infantil. Calças corsário, idem. Sandálias rasteiras, mochila estilo carteiro, ou a de carregar nas costas, mas com apenas uma alça, tudo coisa de gay.
Então porque hoje fazem tanto sucesso entre não-gays? E porque uma música que faz tanto sucesso nas danceterias héteros fez sucesso antes nos "points gays" europeus e asiáticos?

Outro questionamento: por que atraio tanto homem casado e pai de família, que sai comigo, muitas vezes dá a noite inteira e quando tudo acaba, ele volta lindo leve e macho pra casa para encontrar a esposa e o "viadinho" sou eu?

Por que ainda sob muitos aspectos, ainda entre dois homens, quem penetra não se vê como homossexual?
O homem passa tanto tempo da vida aprendendo a ser homem que no fim das contas ainda aprende tudo errado. Faz tudo aquilo que recrimina, continua a jogar pedra no telhado dos outros e ainda segue máximas que não tem razão de ser.

Acredito que os comportamentos de gêneros, tirando o apelo visual óbvio (você vê e identifica um corpo masculino ou feminino e sabe diferenciar pênis de vaginas) não passam de um espetáculo encenado. Aprendemos ao longo da vida a usar uma série de máscaras, que vão nos fazendo perder a consciência de quem somos de verdade. Até aí, nada demais. O foda é querer controlar isso no outro. Acho o fim da picada quando alguém diz pra qualquer outro: "Aja feito homem!", o que pra mim numa tecla SAP, é mais ou menos assim: "Cara, você não está interpretando direito o seu papel de homem".
Sim, porque quem tem o direito de dizer como o outro deve se comportar? Principalmente se esse comportamento não lhe diz respeito, ou modifica a vida dos outros para melhor ou pior. Alguém inventou uma bula de como homens ou mulheres se comportam e ai de quem não a segue. Fala sério, que saco!

Meninos usam calças, meninas usam saias. Meninas podem usar calças e meninos são proibidos de usar saias. Meninos são aplaudidos ao coçar o pênis, e meninas levam um tapa na mão ao tocar suas vulvas...tsc,tsc.

Girls can wear jeans and cut their hair short, wear shirts and boots 'cause it's OK to be a boy. But for a boy to look like a girl is degrading 'cause you think that being a girl is degrading. But secretly you'd love to know what it's like. Wouldn't you? What it feels like for a girl.
"What if feels like for a girl"_Madonna







Garotas podem usar jeans e cortar os cabelos  bem curtinhos, usar camisas e botas porque é legal ser um garoto.
Mas para um garoto se parecer com uma garota é degradante, porque você acha que ser uma garota é degradante. Mas secretamente você adoraria saber como é. Não adoraria? Como se sente uma garota.
"Como se sente uma garota"_Madonna

A Igreja Católica (sei que vou ser gongado por isso, mas tudo bem) que por anos queimou e impalou homossexuais na Santa Inquisição em nome do "Senhor Jesus Cristo" e  ainda hoje condena a união entre dois homens, abriga uma grande quantidade de homossexuais mal resolvidos dentro da Instituição chamada de Sagrada. Mas suas válvulas de escape acabam sendo crianças e adolescentes, não só porque simbolizam ainda a imagem estereotipada da inocência, mas porque a juventude e seu viço são associados à beleza. Isso quando não carregam o ranço do efebo grego.

Todos os dias, homossexuais viram notícia por serem vítimas de crimes de ódio, simplesmente por não se enquadrarem no comportamento de "macho", como se ainda vivêssemos na Idade Média. Já imaginou como seria se os homossexuais resolvessem começar um movimento heterofóbico e saíssem matando héteros? Parece não fazer sentido, não é?

 O que quero dizer com tudo isso, é que se a "Bandeira Gay" é vista como um acinte,a Masculinindade é outra bandeira levantada, porém cheia de furos, rasgos, remendos e símbolos, que ora são seguidos, ora não, dependendo da conveniência do macho de plantão de "passear" despretenciosamente e "desavisado" (sei!) pelo lado "rosa" da força. O machão da vez, é tão caricatura quanto qualquer bichinha.
E no fim das contas, se não faz a mesma coisa que a tal bichinha, se reprime. E tenta reprimi-la também.

O conceito de macho é uma programação tão danosa, que os próprios gays a propagam , sem perceber.
Os efeminados são discriminados, isso é fato. Não que eu concorde com isso, mas a exclusão é notória. Em sites de relacionamento por exemplo, é quase uma regra: "Não aos efeminados". O real problema instalado aí, é que parece não haver aceitação de ser efeminado nem mesmo entre os efeminados. E isso vira uma reação em cascata. O cara se acha o macho (e mesmo numa página gay da internet, diz que não frequenta "meios gays"), com comportamento hétero (finja que acredita), e combate os "afetados", que por sua vez, combatem os que parecem ser mais afetados que eles e o ciclo segue.

Ser macho, é simplesmente uma condição BIOLÓGICA de gênero. Quem não é macho (apenas de acordo com nossos cromossomos), "possivelmente" é fêmea, quando não estamos tratando de hermafroditismo e trangênero. Homens héteros costumam enxergar homens homossexuais como "menos homens", quando isso não passa de um terrível engano. Homem é homem, mesmo gostando de outro homem ou adotando comportamentos classificados socialmente de femininos.

E no fundo no fundo, tenho uma impressão cada vez maior que homem gosta de cacete, mesmo quando arrota aos quatro cantos o quanto gosta de boceta. Não me resumo ao fato de homens compararem tamanho do falo nos banheirões, que vivem cheios, e na maior parte, de homens casados acima de qualquer suspeita. Filmes pornôs, por exemplo, sempre tem de ter uma cena ou outra de lesbianismo ( em nossa sociedade, homossexualidade masculina é execrada e a feminina, celebrada, porque de acordo com o "Manual do Macho", duas mulheres juntas é falta de pica, e dois homens juntos é falta de porrada), mas já reparei que os filmes que só tem lesbianismo não alugam tanto. E os que fazem mais sucesso de verdade, são os de atores bem dotados, do tipo que carregam "a cauda do Godzilla" entre as pernas, o que levanta uma série de questões:

*Quem esta assistindo gostaria de ESTAR NO LUGAR DO ATOR?
*Quem esta assistindo gostaria de SER DOTADO COMO O ATOR?
*Quem esta assistindo gostaria de SER O ATOR, EM QUESTÃO?
*Quem esta assistindo gostaria de ESTAR NO LUGAR DA ATRIZ?

 E sempre que o homem ejacula, em filmes, o espectador tem que ver, por isso o ator "goza fora". O gozo dele tem de estar ligado à catarse do telespectador, onde refaço as questões acima.

Sendo hétero, bi (ou seja lá o que for), admitir que homem é bonito parece ser um tabu gigantesco. Por quê? E assumir ter tesão em outro homem, parece um crime. Por quê?

Honrar o que se carrega sobre o pescoço deveria ser mais importante que o que se carrega entre as pernas. A propósito, o que há de honra, de fato, no uso do que se carrega entre as pernas? Algo pra se pensar.



8 comentários:

  1. yo lo soy, ma no lo puede dicir en mi casa

    ResponderExcluir
  2. Queria q muitos heteros lesem isso....
    Aos poucos que lerem, aprendam, não falta nada.
    É um texto completo, e ve se aprendam a respeitar o proximo.

    ResponderExcluir
  3. Ei Rochester! Aqui é o Felipe, este aqui é meu recem-criado blog. Gostei muito de seu texto, extremamente inteligente. Toca a alma masculina, e quem realmente tem problemas com questões de preconceito e os paradoxos masculinos vão ter uma carapuça pra usar, hahaha. Está de Parabens! Abraço forte!

    ResponderExcluir
  4. Lindo texto, queria tanto que esse texto ficasse bem famoso.. Parabéns! Eu não sou homossexual, mas como mulher e feminista entende muito bem, até porque você levantou questões aí que o feminismo protesta..

    ResponderExcluir
  5. Adorei Rochester! Grata pelas reflexões.

    ResponderExcluir
  6. Reflexão perfeita, e muito profunda. Parabéns por nós permitir o raciocínio sobre este prisma. Quanta sensibilidade, vc discorreu sobre o mesmo temas em diversas situações e contextos. Desejo que este texto seja compartilhado e comentado incansávelmente , afinal muitas vidas se vão pelo desconhecimento, ( em forma de pré conceito).

    ResponderExcluir