terça-feira, 8 de junho de 2010

Nostalgia de Junho (Querido Diário: Fugindo da solidão desesperadamente)



Engraçado nossos momentos de impasse. Eu não queria um namorado_quer dizer, queria, mas um que correspondesse às minhas fantasias e carências, estava cada vez mais em pé de guerra com a família e não me sentia à vontade para conversar sobre mim com ninguém, porque ninguém me entendia (na verdade, NUNCA entendeu). Acabei me isolando de tudo e todos. Mal cumprimentava quem me abordava.

O engraçado é num dia, que indo à casa de minha amiga Raquel, encontrei algo que me manteve ocupado por um bom tempo: as antigas cartas manuscritas. Através de um FB. (do inglês, Friendship Book, um bloquinho feito manuamente, ou mesmo uma folha de papel na qual as pessoas fazem um networking à moda antiga, onde alguém envia o FB em uma carta para um amigo, que o preenche com nome e endereço e o repassa para outro amigo até que não haja mais espaço para nome e endereço no FB, que retorna para quem o fez.), passei a ter contato com gente do mundo inteiro. Amigos de várias partes do mundo.  Resgatei algo que o email nunca vai poder oferecer, que é você chegar em casa e encontrar na caixa de correio uma carta endereçada ( e às vezes decorada) a você e que não se trata de uma cobrança ou propaganda.

Tive contato com gente de todo tipo: negra, branca, amarela, rica, pobre, bonita, feia, centrada, louquinha, pudica, despudorada, enfim...e tanta gente bacana que eu nunca vou conseguir lembrar o nome de todo mundo. Mas uma pessoinha que não vai sair de minha cabeça é Jenna Ellis, uma australiana.

Tudo começou quando eu decidi enviar uma carta para ninguém em específico. Como meu nome Rochester é nome de várias cidades diferentes, enviei carta destinada a "alguém", "qualquer um", "todo mundo", com endereços de Rochester nos Estados Unidos, Inglaterra e Austrália. Já nem me lembrava mais de meu feito quando num dia qualquer recebo uma carta de uma menina super simpática chamada Jenna Ellis, moradora de Rochester, em Victoria, na Australia.

Uma pessoa super comunicativa, esbanjando alto astral me mostrou sem querer, que eu podia sorrir. Comentava sempre orgulhosa de suas partidas de netball ( esporte de duas equipes de sete pessoas em cada praticado principalmente por mulheres, em recinto fechado ou no exterior, num campo de terra batida.O objetivo principal é fazer cestas com uma bola grande por um arco colocado a 3 m do solo em cada um dos lados do campo. Ele tem regras parecidas com o Basquete,mas com muitas diferenças. As jogadoras não podem dar um passo com a bola segura, mas podem rodar sobre um pé antes de fazerem a passada.), dos feitos de sua família. Nos escrevíamos com certa frequencia até que não recebia mais suas cartas.

Cheguei a achar que Jenna havia se mudado, ou eu escrevi alguma besteira gigante, a ponto de ela não querer mais falar comigo_sim, porque entre culturas tão distintas, o meu inglês poderia não ter o alcance desejado por mim.

Escrevi mais algumas vezes, sem nenhum retorno. Até o dia em que recebo uma carta de Glannys Ellis, mãe de Jenna. Antes de abrir o envelope, pensei comigo: "Fodeu, o que escrevi pra menina foi tão brabo que a mãe ficou pê da vida comigo". Antes fosse. Glannys me escreveu para agradecer o carinho de me manter em contato com Jenna, mas infelizmente, ela havia falecido. Sofrera um ataque cardíaco aos dezesseis anos.

Aquilo era muito novo pra mim. Não que eu nunca tivesse conhecido alguém que acabou morrendo, mas a gente nunca espera que alguém tao jovem morra desse modo. Estranhei ainda mais quando recebi fotos do funeral de Jenna, onde seus entes queridos depositavam presentes e mensagens. Ironicamente, de algum modo eu tinha uma inveja colossal de Jenna. Ela tinha deixado esse mundo escroto pra trás e ainda tinha gente pra zelar pelas boas lembranças dela.

Escrever cartas havia deixado de gerar o prazer que eu sentia tao intensamente. Hoje, com minha vida acadêmica, entre trabalhos e emails, as cartas acabaram por deixar de fazer parte definitivamente do meu cotidiano. Faço parte de redes sociais, tenho uma quantidade colossal de amigos que me entopem as caixas de mensagens e não me deixam pensar, quando estamos no bate-papo, devido a tantas janelas piscando. Engraçado, isso não aliviou em nada a solidão.


segunda-feira, 7 de junho de 2010

Nostalgia de Junho (Querido Diário:Queimando meu "armário")







Após revelar minha sexualidade aos meus pais, as coisas ficaram muito instáveis.
Andar em ovos parecia fácil perto disso.

Eu sei que os filhos quando se revelam sexualmente ativos não dizem em tom de confissão aos pais suas heterossexualidades. Então por que raios fui dizer a eles que eu era homo?
Primeiro, porque é na casa deles em que eu vivia e julgava dever-lhes um mínimo de satisfação.
Segundo, porque morando em uma cidade de interior, a última coisa que eu queria é que meus pais fossem os últimos a saber da notícia, em tom de fofoca, pela boca dos outros.
Terceiro, porque eu queria tirar um "piano" de minhas costas. Viver dentro de um armário era uma das coisas mais horríveis pra mim.

Sentia-me como um criminoso de um crime não cometido. Eu posso dizer que não "saí", mas "queimei" meu armário atrás de mim. Tudo o que eu fazia e que as pessoas se chocavam, parecia ser mais efetivo agora, que me assumi como sou. E em tom de sarcasmo, comecei a ser cada vez mais ácido com todo o meio em que fui criado e recusar, a partir daí, a sequer cogitar uma volta às adequações, ao armário ou cofre-forte social que semprem querem me trancar dentro.

Nenhuma de minhas lembranças parecem distantes. Tudo sempre parece que foi ontem. Volto aos treze anos, quando meu guarda roupa só tinha roupas pretas. Eu também pintava meu rosto e minhas unhas da mesma cor. Aos dezessete, quando "soltei a franga", o mundo não ficou mais colorido pra mim, mas eu sim.
Percebi que minhas cores (metafóricas ou literais) não precisavam agradar a ninguém senão a mim.
O problema é que infelizmente o homem não tem o direito de ser uma ilha isolada e deserta. E que nosso telhado sempre está à mercê das pedras alheias, tendo você feito ou  não alguma coisa para quem te apedreja.

Em casa, minha mãe  de tempos em tempos fazia "palestras" sobre gênero, sexo, família e religião (sempre girando em torno de "O homem foi feito pra mulher, a mulher para o homem e tudo que fugir disso está errado") e tudo o que ela falava não fazia o menor sentido para o meu então atual estado, mas eu não podia dizer isso, ou o sermão da montanha não terminaria nunca, e eu corria o risco de levar uma no quengo. Só aí eu havia percebido quantas expectativas minha mãe criara a meu respeito. Ela tinha planos traçados para minha infância e como eu me desenvolveria (saindo tudo o contrário do que ela queria); minha adolescência e com quem eu me relacionaria (deu mais errado ainda), e até como seriam fisicamente os netos que ela estava certa de que eu daria a ela (nem preciso dizer o resultado disso). Em contrapartida, eu só queria uma mãe que me entendesse.

E só hoje eu percebo que eu me odiei muito ao longo do tempo, por ficar na berlinda entre ser quem eu sou e deixar finalmente de lutar contra isso e contra MIM, e tentar me encaixar em qualquer contexto que tenha a ver com os outros. Tudo o que eu preciso é amar o Rochester. Parece simples, mas o Rochester que eu amo, o mundo odeia (se odiassem em silêncio no cantinho, tava bom, mas tripudiam e torturam).
Deve ser bom arrancar um pedaço da alma dos outros, penso eu. Só isso justifica os relacionamentos humanos, o temor alheio (sim, Rochester é proibido para pessoas de moral e bons costumes. Tá bom....sei!) ou inveja ( e com isso voltam a me atacar, porque o Rochester faz o que muitos gostariam de fazer ou dizer, mas não tem coragem). E o Rochester que o mundo gostaria que eu fosse, enquadrado e conformado, eu torço o nariz e recuso.

Não preciso dizer que o Jota por muitas vezes se sentiu deslocado ao meu lado, ou que Eme, por várias vezes disse que gostaria de ter a minha coragem de ser eu mesmo...ou do quanto assustei o "garoto da feira estudantil", que procurava se encaixar de alguma maneira com o sistema (aí, vem aquela máxima que ninguém de perto é normal), uma vez que ele não estava em conformidade com o sistema, sendo filho de uma relação extra-conjugal de uma mãe evangélica fervorosa e um pai machão, que cultivava "bons hábitos em família. O garoto tentava à sua maneira conciliar ser feliz, agradar ao pai e a mãe

Não quero com isso julgar ninguém. Eu sei que cada um sabe a dor e a alegria ( se é que ela existe, pois já vi que muitas vezes ela é apenas uma encenação) de ser quem se é.

Descobri com isso que pagamos um preço alto por TUDO o que fazemos, deixamos de fazer, ou deixamos que nos façam. E descobri com muita dor o mais óbvio. Não se faz omeletes sem quebrar ovos.
Descobri a partir daí, que havia um sujeito muito afim e carente de minha atenção, meu carinho, e meu amor: EU.
Eu e a pessoa social que eu deveria ser "estamos" nos relacionando mais intimamente há algum tempo, entre beijos e murros, porque ainda não consegui deletar essa programação maldita na qual me desenvolvi.

domingo, 6 de junho de 2010

Nostalgia de Junho (Querido Diário: Meu Primeiro Amor)





Terminar com "Eme" me fez perceber que eu não fui inconveniente só com Jota. Acho que até adquirir essa consciência, eu não me dei conta de que eu era inconveniente por natureza, pedante mesmo. Uma cola grudenta e carente. Mendigava migalhas de afeto e atenção o tempo todo. Essa experiência indigesta me levou a um passado ainda mais distante. A primeira vez em que me apaixonei. É...eu ainda lembro. Quer dizer, não esqueço.

Doze anos. Eu era um garoto magro, desengonçado e achava que todo mundo era mais bonito e mais interessante que eu. Eu vinha de uma criação que me fazia ter vergonha de coisas simples e normais, e a lei magna que me foi passada era: "Homossexualidade é uma coisa nojenta, mas homossexuais merecem respeito". Como não havia tecla SAP na época, a tradução seria assim: "Olha, meu filho, respeite os gays, mas não seja um pelo amor de Deus...ou o caldo vai ENTORNAR.". E eu, todo programado, coitado, acreditava naquilo que foi dito, sentia desconforto quando via travestis na tevê ou na rua e me causava um mal estar danado quando ouvia um homem dizer que tinha namorado.Engraçado, eu sentia nojo mesmo.

A imensa ironia do destino estava no pátio do colégio Macedo, numa feira estudantil. Eu estava entre amigos e fui apresentado a um rapaz que pelas roupas e postura, parecia todo largado, no melhor estilo funkeiro. Tinha tudo pra não despertar minha atenção, até mesmo porque, nem fisicamente tinha atributos que me atraíam. Mas não é que o filho da puta do cupido tinha me flechado naquele instante? Tentando não transparecer, quando nos cumprimentamos, apertei sua mão firmemente, falei algumas besteiras e fui fazer outras coisas. Era tarde. Meu estômago revirava, eu suava frio e sentia um sobe e desce por dentro...

Pois é, isso só fez confusão na minha cabeça. Eu me apaixonei MESMO por um homem e de acordo com o que me foi ensinado em casa, eu passei a ter nojo do menino, de mim, e a partir daquele momento, de qualquer casal, inclusive hétero. O mundo me parecia cruel e todos me cobravam uma namorada, especialmente porque meu primo, saidinho, já tinha as namoradas dele. Houve um tempo em que eu tive minhas namoradas também. E quer saber? Eu realmente gostei delas, mesmo porque, eu me envolvia com o ser humano que estava comigo, e ao mesmo tempo, tentava me relacionar da maneira que me ensinaram como correta. Minha primeira namorada era Michele. Doidinha de pedra, um espírito libertário, extremamente avançada pros seus treze anos.

Ficamos um ano juntos. Como eu não trabalhava na época, eu guardava todo o dinheiro que meu pai me dava e muitas vezes fazia o percurso de casa a escola a pé. Assim a gente comia no shopping, ia no cinema...
Eu no fundo tinha inveja da Michele por muitas coisas. Sua maneira de se vestir, de ver as coisas, de se mexer, tudo me fazia querer ficar sempre perto dela. Nunca a apresentei aos meus pais, nem a levei em casa.
Achava que não tinha de abrir as portas do hospício pra ninguém. Fato esse, que raramente levei amigos à casa de meus pais.

Passado um ano com Michele, ela se mudou para outra cidade. E um bom tempo depois, ela me escreve uma carta dizendo que sentia saudades, que estava bem e se relacionava com outra pessoa e que era pra eu torcer muito por sua felicidade. Sua alma gêmea se chamava Mariana.Eu fiquei sem chão pra pisar.Parte de mim se sentia um péssimo representante do gênero masculino enquanto a outra parte tinha ainda mais inveja de Michele, por ter conseguido buscar sua felicidade nos braços de alguém igual. E com isso, voltei a pensar e querer ainda mais aquele garoto da feira estudantil.

Só que entre o pensar e querer havia a vida real, onde eu já me via fuzilado por gostar de um homem, já me imaginava sendo condenado pela família e excluído do círculo de amigos. Mas minha imaginação até então era minha amiga, porque eu não imaginava ser rejeitado pelo garoto. ISSO, até encontrar com ele em meio aos nossos amigos em comum. Aí tudo mudava. Eu voltava a ter os calafrios, o céu pra mim sempre ficava turvo e eu me sentia frágil e desprotegido, somando-se a isso o fato de eu estar sentindo isso sozinho, sem poder compartilhar com ninguém. Se eu era uma criança solitária _estando sozinha mesmo_ agora eu era um adolescente solitário em meio a muita gente. Parecia incomodar mais.

Tive outras namoradinhas. Os namoros começavam, acabavam e eu tornava a querer o garoto da feira estudantil. As coisas se repetiam de uma tal maneira, que meus pesamentos pareciam mais um mantra. Eu acabei desenvolvendo mil faces, nunca demonstrando a ninguém o que eu sentia de verdade.E parecia que tudo o que menos queriam de mim era a verdade. Essa brincadeira de esconde-esconde emocional durou cinco anos. O menino  já estava mais próximo de mim, como um amigo que nem desconfiava do quanto eu o desejava. Tínhamos bastante amigos em comum, e nos vermos era quase inevitável.

Nessa época o tal menino parecia ser o adolescente mais popular da escola onde estudava, tinha uma namorada muito bonita e que parecia não gostar dele tanto quanto ele parecia gostar dela. Nisso eu também fui percebendo o quanto as pessoas vivem de aparências mesmo e eu definitivamente não era o único.

Quando eu o via triste, só Deus sabe o quanto eu queria abraçá-lo, colocar sua cabeça em meu colo e dizer que ia ficar tudo bem e que eu estava ali pra ele. Porém eu não era nem de longe a pessoa com quem ele queria estar, mas a namorada, e que ela correspondesse aos seu sentimentos.

Percebi que ter expectativa é acertar todos os números da loteria da frustração. E assim eu entrei na ciranda da "Quadrilha" da  "Flor da Idade":"João amava Teresa, que amava Raimundo, que amava Maria, que amava Joaquim, que amava Lili, que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para a tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes,que não tinha entrado na história.". Eu era um estepe invisível na história. Ninguém parecia me amar naquele momento.

Como eu queria amar e ser amado sem ter de precisar dar satisfações ou me sentir culpado pela inadequação de estar gostando e querendo TANTO alguém do mesmo gênero. E queria sim, que o "Pedro Bó", que gostava da Paulinha, me enxergasse e soubesse que meu coração só faltava saltar da boca quando ele estava perto de mim e que se eu fosse um cachorrinho, perderia o rabo de tanto abaná-lo por causa dele.


Aos dezessete anos, tomei coragem suficiente e me declarei pra ele, assim como contei para meus pais que eu estava perdidamente apaixonado por um homem. E se por cinco anos eu tentei matar meu sentimento, a partir de agora eu me afundava de vez no amor platônico. Hoje não tenho mais contato com o "menino da feira estudantil", não sei como vive, como está fisicamente, mas ainda guardo no coração a pessoa que ele foi e às vezes, muito de vez em quando, ainda tenho uma saudade dos abraços e beijos que não demos.





sábado, 5 de junho de 2010

Nostalgia de Junho (Querido Diário: Flores novas no velho jardim)



Apesar de não tirar Jota da cabeça (a música O Vento, de "Jota Quest" tocava o tempo todo nas rádios da cidade e a nostalgia me alimentava a alma de uma maneira bem dolorida), quase dois anos depois, eu acabei conhecendo outra pessoa, "Eme". Um partidão. Bonito, popular, independente e que vivia uma vida confortável.Perto dele, eu me sentia o patinho feio ao lado do cisne. Mas o sujeito era tão bacana que o complexo de inferioridade não durou muito tempo. Quando dei por mim, já estava fazendo programa de namorados. Indo juntos ao Shopping Center da cidade para comer, cineminha a dois regado a pipoca, refrigerante e muita mão boba...

Passei até mesmo a ir a shows, coisa que nunca fui muito fã, por não gostar muito de muvuca.
Sabe aquela pessoa que te surpreende e te dá um presente assim, sem avisar, simplesmente porque hoje é quarta-feira, por exemplo? Eme era assim. Cismava do nada e às vezes estávamos passando o final de semana na estrada_ e acabávamos usando a paisagem do percurso como fundo de nossas "recreações".Risos.

Mas me perguntava o tempo todo: "Por que com tudo dando certo, um incômodo indecifrável me dizia que tinha alguma coisa muito errada?".De qualquer modo, era meu momento de viver a vida sorrindo , no melhor estilo "Hakunna Matata".O que poderia haver de errado nisso tudo?

Eme era viciado em cocaína e numa de suas crises, quebrou seu apartamento inteiro e me deu uma surra enquanto eu me defendia de pratos que voavam, espelhos e vidros atingidos por qualquer outra coisa...nem a pia da cozinha ficou ilesa.

Um dos vários pontos tristes disso era saber que meus pais viviam em uma pocilga e o meu namorado atacado acabou com um apartamento chique e que reformar não seria problema pra ele. Mas será que conseguiria reformar sua vida? De qualquer modo, essa foi a primeira e a última vez que ele me acertou.

Dessa vez, EU disse o adeus (geralmente, em relacionamentos, eu é que costumava levar o pé na bunda), sem dizer que o problema era meu, porque de fato, não o era mesmo.
E eu percebi o quanto eu podia estar sendo inconveniente com Jota ao insistir em manter contato. Era muito desagradável ter Eme me perseguindo e dizendo que me amava e não conseguia viver sem mim.

Nessa altura do campeonato, já estava meio farto de ouvir e ler "EU TE AMOs".
Tenho uma dificuldade enorme em dizer que amo alguém, pra dizer a verdade.
Prefiro me sentir amado a ouvir um "Eu te amo" de alguém. E se digo que amo, gosto que a pessoa saiba que não é apenas uma frase bonita.

O que aprendi de fato com isso, é que quando nos relacionamos com os outros, o perigo é quando deixamos de gostar de nós mesmos para gostar da outra pessoa.

Faltava agora (acho que ainda falta, na verdade) só aprender a colocar isso em prática. Risos.

É a vida...

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Nostalgia de Junho (Querido Diário: Caminhando nas nuvens_sem pára-quedas)



Sabe quando você acha que encontrou "a tampa da tua panela"? Pra mim, Jota era isso e muito mais. Até a sinastria de signos parecia ir a nosso favor. Ele, escorpiano dominador; eu, pisciano que gosta de ser conduzido...eu, apaixonado, ele correspondendo, enfim.
Não havia me dado conta que ja estava me acostumando com Jota como namorado e nem percebi que ja havia deixado tantas coisas minhas em seu apartamento. Ron, o ex namorado que morava com ele, vez ou outra me abordava com alguma alfinetada. Eu sempre respondia com o que Jota chamava de "humor rebuscado". Algo que para quem não me compreendesse, eu passava por inocente ou ignorante, e para quem "sabe ler", era um revide com luvas de pelica.

Lembro-me com memória fotográfica dos filmes que Jota alugou para vermos no sofá da sala. Minha cabeça encostada em seu colo encontrava algo nada macio durante todo o filme. Pensando bem, não sei como aguentamos assisti-lo sem pausa para...deixa pra lá.

Conheci também alguns amigos de Ron, que pareceu muito incomodado com a afinidade que tive com eles. Jota parecia mais próximo e mais doce. Eu não queria outra coisa na vida.

Pois é, mas nos finais de semana seguintes, eu ignorei completamente meu radar. Jota estava mais distante e atribuiu isso a excesso de trabalho e uma certa depressão. Ofereci-me para ajudar no que fosse possível. Até que ouvi as frases clichês: "Neném, vamos dar um tempo. Não é você, sou eu."

Voltei para minha cidade com a sensação de ter perdido um órgão vital. Jota não me telefonava mais, seus emails eram frios e eu a todo custo insistia em estabelecer contato pra saber o que de fato aconteceu de errado. Jota dizia que nossa estrada se convergiria novamente, no futuro.

Eu não tinha olhos pra ninguém ao meu redor e comecei uma odisseia: escrevia cartas a Jota, TODOS os dias. Sempre perfumadas e coloridas. Às vezes falando de sentimentos e sonhos, outras, enviando poesias ou não falando coisa com coisa. Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) poderia fatalmente me usar como modelo para sua poesia "Todas as cartas de amor são ridículas". Mas era minha maneira de não deixar o tempo, a distância e o silêncio ganharem terreno.

Um dia, Jota passa por Volta Redonda, me telefona e passa rapidamente na porta de minha casa e deixa em uma mochila, tudo que era meu e que estava no apartamento.

Não podia escutar "Vento no Litoral", que desabava em choro. Voltei a ouvir Adriana Calcanhoto e Marisa Monte compulsivemente. Minha trilha sonora internacional era o cd "Something to Remember", da Madonna,e as músicas  Still Got The Blues, do Gary Moore e Wicked Game, do Chris Izaak. Um chororô infinito, Sexy, mas triste que só. Fim de carreira maior, só se eu escutasse Maysa.




Mas sabe quando a gente perde o senso? Na época, eu fazia alguns trabalhos de modelo e figurante (rio sempre quando lembro disso), e sempre que ia ao Rio, telefonava pra ele, procurando saber como estava, ouvir sua voz, que tanto me fazia falta. Pura inconveniência.

Como diria Dercy Gonçalves, "Paixão é um calo no cérebro."

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Nostalgia de Junho (Querido Diário: Love is in the air)



Minhas reinações pela Cidade Maravilhosa começam aqui.

Eis que Jota, ciceroneando, me apresenta para o Rio de Janeiro, num passeio de carro, ouvindo minha música favorita: "Merry Christmas Mr. Lawrence", do Ryuichi Sakamoto.

Confesso que apesar de meus olhos procurarem por todos os detalhes de tudo o que eu via, meus outros sentidos pareciam não querer saber de outra coisa senão aquela criatura de cabelos grisalhos, compleição física forte (meio "socadinho"_risos), um belo par de olhos verde-azulados e um sorriso safado, mas muito cativante. Não demorou muito para que eu fosse levado ao seu apartamento. Fui recebido por uma cadela Husky Siberiana muito simpática, e seu dono, um moreno bonito, que tinha (creio que convenientemente) um outro compromisso. Era um ex namorado de Jota, que dividia o apartamento e despesas. Ignorando a cadela, eu estava a sós com Jota.

Em pouco tempo, estávamos sem roupas e descobri o quanto ele era peludo. Quando ri disso, ele acabou soltando um "Desculpa, mas eu sou assim...". Bobo, mal sabia ele que eu gostava muito daquele "casaco de pele" humano.

Dormimos (pouco) agarradinhos enquanto a chuva caía madrugada a fora no bairro de Botafogo. Ao acordar, recebi café na cama, fui beijado antes mesmo de escovar os dentes e tomamos banho juntos. Aos que não gostam, sintam-se a vontade para fazerem a careta mais feia, mas achei o máximo quando ele, debaixo do chuveiro passou shampoo sobre seu corpo e se esfregou em mim...passamos um final de semana tão gostoso que queríamos repeti-lo mais vezes. E com isso, nos tornamos "namorados de final de semana".

Todas as vezes que eu chegava ao Rio, era recebido por Jota ao som de Ryuichi Sakamoto, isso quando não chegávamos ao seu apartamento e ele me puxando pela cintura, me arrastava dançando pela sala, ao som de Merry Christmas Mr. Lawrence.

Lembro-me que disse a Jota que queria conhecer a praia nudista que todos falam tanto, no Rio. Porém, quando ele me levou a ela, eu estava com uma pneumonia braba, e acabamos indo para a Praia da Reserva, e eu fiquei vestido o tempo todo. Mas acabei conhecendo amigos de Jota, que acabou descobrindo o quanto eu gosto de massas. Nesse fim de semana eu me entupi num rodizio.

Cada vez que eu tinha de voltar para minha cidade, quase morria e saudade, e o coração parecia saltar da boca quando o telefone tocava, ou quando ouvia alguém dizer o nome de Jota.

Ééééé....eu estava completamente de quatro, apaixonado.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Nostalgia de Junho ("Querido Diário"...)


Parece que foi ontem, e tenho 21 anos outra vez.
Vejo-me na Biblioteca Municipal de Volta Redonda, procurando me distrair da minha vidinha miserável e  insuportavelmente chata.

Através de um amigo, conheço alguns sites de relacionamentos_algo que eu adorava fazer na biblioteca, por ser proibido (risos)_ e acabo achando divertido uma chuva diária de mensagens em minha caixa postal. Muitos tipos interessantes e apolíneos me abordavam e eu, apesar de achar o maior barato, não dava muita atenção, até me deparar com a mensagem de um "Marinheiro Carioca".

A abordagem foi sutil, mas me interessou, apesar de sua foto no perfil ser do tamanho de um cocô de pulga. Só se via um grande fundo verde, de vegetação, e ele era um cisco no meio disso. Mas não é que o raio do homem fez um clique, na minha cabeça? A partir daquele "Oi, tudo bem?" eu passei a querer ler mais sobre ele.Passamos semanas nos falando. Soube que ele era advogado quarentão, morava na Zona Sul do Rio de Janeiro_ algo que para mim não significava muito. Eu não conhecia nada do Rio mesmo..._ adorava o mar e praticava esportes relacionados a água.

Eu já achava que meu interlocutor virtual me esqueceria em detrimento às possibilidades de um contato real conseguido mais facilmente com outras pessoas num raio mais próximo, quando ele me pede o número de telefone. Na época eu não tinha celular, e protelando, uma semana após o pedido, dei o número de um orelhão do lado de fora da biblioteca. Eu bobo que só, garoto do interior, tive medo de atender à ligação, mas acabei gostando muito da voz que chegou ao meu ouvido. Era forte, masculina e ao mesmo tempo, gentil. Gostei tanto da voz que queria conversar até a hora de dormir.Uma vez mais, eu achei que isso não ia dar em nada e que ele não fosse me dar muita bola. E levamos quase dois meses nos falando no orelhão da biblioteca até eu tomar coragem e dar o número de casa.

Já não pensava muito, Queria mesmo ouvir aquela voz todos os dias. Até que marcamos de nos encontrar. Fui ao Rio de Janeiro, me sentindo um alienígena. Meu coração parecia não aguentar o passar dos minutos. E quando ele chegou num carro vermelho escuro, eu fiquei petrificado, mas tentei não demonstrar_ o que ele parece ter percebido mesmo assim. Acabamos indo para uma cafeteria e sorriu quando ao me oferecer uma bebida, escolhi um chocolate quente.

Caramba, ainda sinto o gosto do chocolate, a voz,o cheiro a textura da pele de "Jota", o marinheiro, e até mesmo o cheiro daquele dia.

Quer saber? A história não acaba aqui não.Continua....

terça-feira, 1 de junho de 2010

Junho - Mês dos Namorados




As lojas estão fervilhando de artigos e "promoções" voltadas para o "Dia dos namorados".
Então, tudo o que se vê por aí são anúncios com casais, muitos fundos e corações vermelhos, etc e tal...e não é que ja me perguntaram sobre o que vou dar ou receber no dia dos namorados?
Neste exato momento, tudo o que quero é sossego.

Estou literalmente farto de envolvimento.
Parece que já sei como tudo vai acabar antes mesmo de começar.
Uma das coisas que atualmente não abro mão, é de ser fiel a MIM.

Sou uma criatura difícil, mas se estou com alguém, e gosto desse alguém, não ouso pensar em pedir para o outro mudar, então por que raios eu tenho que me adequar às convenções dos outros?
Assim sendo, não deixo de usar minha roupa mais espalhafatosa, de sair quando quero sair, de ficar em casa ou me isolar se eu assim quiser.

Passei tempo demais da minha vida querendo um namorado.
Alguém a quem eu pudesse me dedicar e sentir meus dias menos pesados.
Alguém pra dizer que sentiu minha falta durante o dia e me dar um beijo de boa noite.

Eu costumava ser ridiculamente romântico, algo que vou descrever nas postagens seguintes.
Jota, um ex-namorado costumava repetir constantemente que eu deveria aprender a jogar fora meu coração, que só sabia doer.

O pulso ainda pulsa e o coração físico ainda existe no mesmo lugar, mas o coração romântico eu amputei.
Ironia, é que ha pouco tempo atrás, Jota me procura, querendo encontrar a doçura do coração que extirpei.
Só o tempo vai me dizer se o que fiz foi certo ou não. Pelo menos agora, mais frio e um tanto insensível ao romance, dói menos.

E, para me envolver profundamente com alguém eu precisaria de um novo "coração" transplantado.
Só assim me relacionaria intimamente com pessoas, que a mim parecem macacos furiosos e programados por uma sociedade que não difere de nenhuma milícia. Relacionar-se é também ceder, ser flexível. Sou capaz de fazer programas que não me agradam, pra agradar a um namorado.Entretanto, não deixo de ser eu, por conta disso. Entretanto, atualmente não estou disposto a nada disso, além de estar EXTREMAMENTE INTOLERANTE às expressões: "Você tem que...", "Mas você não pode...", "Você vai fazer isso..." e "Será que você não pode fazer um esforço pra se adequar?".

Nunca fui fã do Clodovil, mas uma de suas frases ficou gravada pra sempre em mim: "É preferível afrontar o mundo e servir à nossa consciência a afrontar a nossa consciência para ser agradável ao mundo.".

Não obrigo ninguém a seguir minha maneira de ver e sentir o mundo, mas se isso não puder ser ao menos respeitado, e se as nossas diferenças são algo que nos separa em vez de nos unir, senhor pretendente, passe um feliz mês dos namorados com um Pedro, José, João, Augusto ou outro qualquer.

O Rochester vai ficar sozinho com um sorriso de canto a canto.

Antes só...antes só.