terça-feira, 8 de junho de 2010

Nostalgia de Junho (Querido Diário: Fugindo da solidão desesperadamente)



Engraçado nossos momentos de impasse. Eu não queria um namorado_quer dizer, queria, mas um que correspondesse às minhas fantasias e carências, estava cada vez mais em pé de guerra com a família e não me sentia à vontade para conversar sobre mim com ninguém, porque ninguém me entendia (na verdade, NUNCA entendeu). Acabei me isolando de tudo e todos. Mal cumprimentava quem me abordava.

O engraçado é num dia, que indo à casa de minha amiga Raquel, encontrei algo que me manteve ocupado por um bom tempo: as antigas cartas manuscritas. Através de um FB. (do inglês, Friendship Book, um bloquinho feito manuamente, ou mesmo uma folha de papel na qual as pessoas fazem um networking à moda antiga, onde alguém envia o FB em uma carta para um amigo, que o preenche com nome e endereço e o repassa para outro amigo até que não haja mais espaço para nome e endereço no FB, que retorna para quem o fez.), passei a ter contato com gente do mundo inteiro. Amigos de várias partes do mundo.  Resgatei algo que o email nunca vai poder oferecer, que é você chegar em casa e encontrar na caixa de correio uma carta endereçada ( e às vezes decorada) a você e que não se trata de uma cobrança ou propaganda.

Tive contato com gente de todo tipo: negra, branca, amarela, rica, pobre, bonita, feia, centrada, louquinha, pudica, despudorada, enfim...e tanta gente bacana que eu nunca vou conseguir lembrar o nome de todo mundo. Mas uma pessoinha que não vai sair de minha cabeça é Jenna Ellis, uma australiana.

Tudo começou quando eu decidi enviar uma carta para ninguém em específico. Como meu nome Rochester é nome de várias cidades diferentes, enviei carta destinada a "alguém", "qualquer um", "todo mundo", com endereços de Rochester nos Estados Unidos, Inglaterra e Austrália. Já nem me lembrava mais de meu feito quando num dia qualquer recebo uma carta de uma menina super simpática chamada Jenna Ellis, moradora de Rochester, em Victoria, na Australia.

Uma pessoa super comunicativa, esbanjando alto astral me mostrou sem querer, que eu podia sorrir. Comentava sempre orgulhosa de suas partidas de netball ( esporte de duas equipes de sete pessoas em cada praticado principalmente por mulheres, em recinto fechado ou no exterior, num campo de terra batida.O objetivo principal é fazer cestas com uma bola grande por um arco colocado a 3 m do solo em cada um dos lados do campo. Ele tem regras parecidas com o Basquete,mas com muitas diferenças. As jogadoras não podem dar um passo com a bola segura, mas podem rodar sobre um pé antes de fazerem a passada.), dos feitos de sua família. Nos escrevíamos com certa frequencia até que não recebia mais suas cartas.

Cheguei a achar que Jenna havia se mudado, ou eu escrevi alguma besteira gigante, a ponto de ela não querer mais falar comigo_sim, porque entre culturas tão distintas, o meu inglês poderia não ter o alcance desejado por mim.

Escrevi mais algumas vezes, sem nenhum retorno. Até o dia em que recebo uma carta de Glannys Ellis, mãe de Jenna. Antes de abrir o envelope, pensei comigo: "Fodeu, o que escrevi pra menina foi tão brabo que a mãe ficou pê da vida comigo". Antes fosse. Glannys me escreveu para agradecer o carinho de me manter em contato com Jenna, mas infelizmente, ela havia falecido. Sofrera um ataque cardíaco aos dezesseis anos.

Aquilo era muito novo pra mim. Não que eu nunca tivesse conhecido alguém que acabou morrendo, mas a gente nunca espera que alguém tao jovem morra desse modo. Estranhei ainda mais quando recebi fotos do funeral de Jenna, onde seus entes queridos depositavam presentes e mensagens. Ironicamente, de algum modo eu tinha uma inveja colossal de Jenna. Ela tinha deixado esse mundo escroto pra trás e ainda tinha gente pra zelar pelas boas lembranças dela.

Escrever cartas havia deixado de gerar o prazer que eu sentia tao intensamente. Hoje, com minha vida acadêmica, entre trabalhos e emails, as cartas acabaram por deixar de fazer parte definitivamente do meu cotidiano. Faço parte de redes sociais, tenho uma quantidade colossal de amigos que me entopem as caixas de mensagens e não me deixam pensar, quando estamos no bate-papo, devido a tantas janelas piscando. Engraçado, isso não aliviou em nada a solidão.


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